Há
ainda um outro fenómeno curioso - de entre a miríade de fenómenos particulares
que é a própria meteorologia – que se produz, com especial incidência, sobre a
psique humana, e que acho digno de atenção - trata-se de um certo tipo de
transformação de personalidade, talvez uma esquizofreniazinha momentânea,
derivada da pressão atmosférica: o orgulho que se gera em quem traz novas
sobre as condições meteorológicas. Facto é que as pessoas adoram anunciar em
viva voz coisas relacionadas com o tempo.
Vejam bem, que um amigo meu, ex-futebolista
amador mas ainda não futebolista profissional, a melhor recordação que guarda
da sua curta mas brava carreira, foi do dia em que se lesionou com gravidade
num joelho, num lance disputado com um viril central do Arrentela. Porquê?
Porque nesse dia perdeu uma rótula mas ganhou um infalível aparelho indicador
de alterações climatéricas. “Disto nem o Mantorras tem, diz ele com orgulho lá
no café do bairro enquanto é olhado com inveja despudorada por alguns dos seus
pares que nunca tiveram tamanha sorte.
É por
isso, que sempre que as condições climatéricas se alteram, as redes sociais se
enchem de comentários do tipo “ai que está frio!”, “ ora bolas que por aqui já
chove!”. O mundo fica atulhado de jornalistas do óbvio.
Este
fenómeno tem ainda mais impacto se for ao vivo; estória verdadeira:
Escritório. Parte da tarde. Toda a gente, ou quase toda a gente, concentrada no
trabalho. Caras nos computadores e, de repente, volta alguém
da pausa para o tabaco e, qual Arauto Meteorológico, diz a plenos pulmões: “Pessoal,
está a chover!”,
É o
pânico, é o caos, é a tragédia!
Há
gente a correr para as janelas a confirmar o evento. Há lamúria generalizada e catastrofista
sob a forma de “oh não, eu não trouxe chapéu-de-chuva!”. Seguem-se as
acusações, a atribuição de culpas: “ELES não deram chuva para hoje! Isto não se
admite!”, agita-se a paz social do local de trabalho, acendem-se as índoles
contestatárias e gera-se, em média, uma quebra da produtividade que poderá
chegar a níveis próximos do zero,
durante pelo menos uns bons cinco minutos.
Afirmo
até, talvez de forma temerária, de que é o superior interesse que temos pelas
questões meteorológicas que nos trama...é por termos um clima melhor, mais rico
e mais diversificado, que a nossa produtividade é inferior à dos países do
Norte e Centro da Europa - só pode.
Se
aqui estivesse permanentemente a fazer frio, a chover e a nevar, e se não
tivéssemos que estar constantemente preocupados como tempo que faz lá fora, era
fácil produzir mais e melhor!
Eslavos
d´um raio!! Assim também eu!! Experimentem lá vocês produzir, sabendo que de
repente o sol deu lugar a farrapos e a qualquer momento podem surgir
aguaceiros! Queria-vos ver a conviver com esta angústia!
P.s.:
enquanto escrevia este texto a minha mãe ligou-me. Antes de me dizer que tinha
feito boa viagem e chegado bem ao seu destino, fiquei a saber que estava chuva
e vento por lá.
*O PIP orgulha-se de dizer, que este texto foi escrito em parceria com a Sara Krussman Taborda
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