Não do tempo como o bem mais democrático que existe, por
ser igual para todos onde quer que se encontrem, mas o tempo como forma de medida, ou
mesmo enquanto grandeza física directamente associada ao correto sequenciamento, mediante ordem de ocorrência.
Esse tempo,
hoje, não me interessa. Deixo a sua análise para os filósofos e para os
senhores da Swatch.
O meu
interesse é no outro tempo - o meteoro (lógico!).
A meteorologia
é relativamente menosprezada e se perguntarmos a várias pessoas, poucas serão
aquelas que vão admitir que este é um tema de interesse primordial - o que é
errado: afinal de contas, a meteorologia é O tema universal por excelência e
isso atesta pela sua importância.
Senão vejamos:
Para o caso de
este não ser um dado já adquirido, aqui fica o avanço: o ser humano desde o dia
em que nasce, está programado para avaliar e falar sobre o tempo.
Isto é, sem
sombra de dúvida, uma herança genética e cultural, homogénea a todo o ser
pensante. Conseguimos fugir de avaliar e falar do tempo, tal como conseguimos
fugir de respirar ou comer.
“Penso, logo
existo” disse Descartes. “Existo, logo falo do tempo”, acrescento eu. “Agasalho-me
bem, logo não me constipo” adenda a minha sábia progenitora.
Todos nós, em
alguma altura do nosso dia, falamos com alguém sobre o estado do tempo, e não
há ninguém – REPITO –, absolutamente ninguém, que não tenha algo a dizer sobre o
tempo.
Quando
abordamos amigos, conhecidos e/ou, sobretudo, desconhecidos, o único tema de
conversa seguro, é o tempo.
Já entrei em
táxis e disse com um ar espertalhão, “Então chefe! o nosso Benfica…?” apenas
para ouvir “Eu não ligo muito a futebol. 22 milionários a correr atrás duma
bola!”. Pimba. Fim de conversa.
Quantas vezes
já num café, tentando fazer conversa casual com quem está atrás do balcão
larguei um “Ui e este governo, hein?”, apenas para ouvir um “Ó amigo eu não me
meto em políticas! Eles lá sabem. O garoto é pingado?”.
Mas nunca,
nunca, em momento algum, me aconteceu dizer algo como “Eh lá, isto vem aí
chuva!” e não ouvir, logo de seguida, sem qualquer tipo de hesitação, uma
concordância, ou um parecer igualmente douto, depois de uma mera observação do
céu: “Hum olhe que não, aquilo não são nuvens de chuva, aquilo são mais
farrapos pá!”.
Sim, no que ao
tempo diz respeito, somo todos Marcelos Rebelos de Sousa. É por isso que temos
comentadores e especialistas de tudo e mais alguma coisa, menos do tempo. Não
há autoridade na matéria, porque ninguém aceitaria tal coisa.
As pessoas nem
tão pouco se referem ao Instituto Português de Meteorologia. Quando querem
falar sobre as previsões do IPM - porque nisto do tempo não há certezas, só
previsões - limitam-se a referir-se a este, com um pouco reverente e até
desdenhoso “eles”.
Se perguntar amanhã no trabalho se vai chover, ninguém me dirá: “O
Instituto Português de Meteorologia disse que sim!”...o mais certo, é ouvir um
“Não. ELES não deram chuva para hoje!”. É este o desdém com que é tratado
alguém que pretende afirmar que pode saber mais sobre o estado do tempo, do que
o comum cidadão. Toda e qualquer previsão emitida pelo IMP é vista como uma
provocação, como quem diz “Olha pra ELES, mas quem é que ELES julgam que são?”
(continua...)
*O PIP orgulha-se de dizer, que este texto foi escrito em parceria com a Sara Krussman Taborda
(continua...)
*O PIP orgulha-se de dizer, que este texto foi escrito em parceria com a Sara Krussman Taborda
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