segunda-feira, 4 de março de 2013

O Tempo

Hoje apraz-me falar do Tempo.

Não do tempo como o bem mais democrático que existe, por ser igual para todos onde quer que se encontrem, mas o tempo como forma de medida, ou mesmo enquanto grandeza física directamente associada ao correto sequenciamento, mediante ordem de ocorrência.

Esse tempo, hoje, não me interessa. Deixo a sua análise para os filósofos e para os senhores da Swatch.

O meu interesse é no outro tempo - o meteoro (lógico!).

A meteorologia é relativamente menosprezada e se perguntarmos a várias pessoas, poucas serão aquelas que vão admitir que este é um tema de interesse primordial - o que é errado: afinal de contas, a meteorologia é O tema universal por excelência e isso atesta pela sua importância.

Senão vejamos:

Para o caso de este não ser um dado já adquirido, aqui fica o avanço: o ser humano desde o dia em que nasce, está programado para avaliar e falar sobre o tempo.

Isto é, sem sombra de dúvida, uma herança genética e cultural, homogénea a todo o ser pensante. Conseguimos fugir de avaliar e falar do tempo, tal como conseguimos fugir de respirar ou comer.
“Penso, logo existo” disse Descartes. “Existo, logo falo do tempo”, acrescento eu. “Agasalho-me bem, logo não me constipo” adenda a minha sábia progenitora.

Todos nós, em alguma altura do nosso dia, falamos com alguém sobre o estado do tempo, e não há ninguém – REPITO, absolutamente ninguém, que não tenha algo a dizer sobre o tempo.
Quando abordamos amigos, conhecidos e/ou, sobretudo, desconhecidos, o único tema de conversa seguro, é o tempo.

Já entrei em táxis e disse com um ar espertalhão, “Então chefe! o nosso Benfica…?” apenas para ouvir “Eu não ligo muito a futebol. 22 milionários a correr atrás duma bola!”. Pimba. Fim de conversa.

Quantas vezes já num café, tentando fazer conversa casual com quem está atrás do balcão larguei um “Ui e este governo, hein?”, apenas para ouvir um “Ó amigo eu não me meto em políticas! Eles lá sabem. O garoto é pingado?”.

Mas nunca, nunca, em momento algum, me aconteceu dizer algo como “Eh lá, isto vem aí chuva!” e não ouvir, logo de seguida, sem qualquer tipo de hesitação, uma concordância, ou um parecer igualmente douto, depois de uma mera observação do céu: “Hum olhe que não, aquilo não são nuvens de chuva, aquilo são mais farrapos pá!”.

Sim, no que ao tempo diz respeito, somo todos Marcelos Rebelos de Sousa. É por isso que temos comentadores e especialistas de tudo e mais alguma coisa, menos do tempo. Não há autoridade na matéria, porque ninguém aceitaria tal coisa.

As pessoas nem tão pouco se referem ao Instituto Português de Meteorologia. Quando querem falar sobre as previsões do IPM - porque nisto do tempo não há certezas, só previsões - limitam-se a referir-se a este, com um pouco reverente e até desdenhoso “eles”.


Se perguntar amanhã no trabalho se vai chover, ninguém me dirá: “O Instituto Português de Meteorologia disse que sim!”...o mais certo, é ouvir um “Não. ELES não deram chuva para hoje!”. É este o desdém com que é tratado alguém que pretende afirmar que pode saber mais sobre o estado do tempo, do que o comum cidadão. Toda e qualquer previsão emitida pelo IMP é vista como uma provocação, como quem diz “Olha pra ELES, mas quem é que ELES julgam que são?”

(continua...)


*O PIP orgulha-se de dizer, que este texto foi escrito em parceria com a Sara Krussman Taborda

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