Ontem foi dia
de greve. Desta vez foi do Metro. Tenho que dizer, que contrariamente ao
sentimento generalizado, gosto cada vez mais de greves. Sem ironias. Não perco
uma. Na verdade até faço questão de as procurar. Onde quer que haja uma greve,
lá estou eu. É do metro? É ver-me cedinho, no Campo Grande, a tentar entrar num
autocarro da Carris. É da Carris? É ver-me no metro do Marquês bem cedo, todo
regalado. É da CP? Claro que já dura há um ano e há um ano que aos fins
de semanas e feriados só me encontram em autocarros da Barraqueiro, ou da rede
Expresso-Eva-Mundial Turismo a deslocar-me de terra em terra, pelo interior
do país. É greve geral? Olha para mim a tirar um dia de férias só para a gozar
na sua plenitude (uma coisa é gostar de greves, outra é fazê-las, sabem, é que
trabalho no sector privado...).
O motivo para
esta minha loucura é simples. Desde que comecei a relação em que estou agora,
que estou proibido de ir a discotecas africanas. Na opinião da minha namorada, numa discoteca africana atarracha-se demasiado para se manter a decência e a mente limpa
de pensamentos impuros, com a pessoa com quem se está a dançar. Tentei
convencê-la do contrário, mas em vão. O pior é que tendo nascido no Seixal,
não consigo pôr de lado a minha costela africana.
Por isso em
dias de greve faço a vontade ao sangue. Levanto-me cedo, espero o transporte
que vai ter o triplo da sua lotação, luto como posso para entrar nele e, uma
vez lá dentro, ponho os phones, o leitor de cd’s com “O Midjor Di Kizomba 3”,
fecho os olhos e deixo-me levar pelo ritmo que me invade, enquanto bailo bem agarrado à minha
companheira e lhe sussurro ao ouvido - “Ahhh, Ludmila, deixa-te levar que hoje
sou só eu tu e os Irmãos Verdades” - e ela pra mim - “Oh amigo tá doido o que
pensa que está a fazer?”- e eu a devolver-lhe a carícia - “Ah, Ludmila,
não tarda voltamos p´ra Banda, com bom dinheiro, abrimos uma banca no Mussulo e
bailamos na praia à luz do luar” – e ela com aquele olhar doce e apaixonado a
deixar-se levar pela voz quente do Anselmo - “Ó amigo largue-me já disse, tá a
ouvir?? Acudam, ACUDAM!”.
Juntos
deixamo-nos envolver pelo calor humano que nos consome e esquecemo-nos que
estamos rodeados por pessoas, até que estas nos forçam a separar, a acordar do
sonho, e me expulsam com insultos e agressões do veículo – hoje em dia ninguém
suporta felicidade alheia – enquanto faço juras de amor eterno à minha Ludmila
e ela maravilhada e esmagada com tudo aquilo, com aquele corpo torneado de
caçula que sabe o que quer, lhes diz “vocês viram este filha da put(PIP)?
Apanha-se com cada tarado nestes dias...”.
Sim, em dias de greve tudo me parece
melhor e um pouco mais africano.
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