Já perdi a
conta ao número de vezes que ouvi alguém dizer “Isto vai lá é com trabalho!
Trabalhem!” Desconfio que estes novos apregoadores da doutrina do trabalho vão
acabar a fazer inveja às testemunhas de Jeová. Espero ansiosamente pelo dia em
que iniciarão a táctica da angariação de membros porta a porta e com ela a distribuição
a nível nacional da revista “Trabalhai!”.
Aparentemente, este medicamento moderno, o trabalho, é cura e solução para todos os tipos de
males. É o Aloé Vera do nosso século. A aplicação do jargão é simples, basta
pôr uma cara autoritária, de quem tem razão e tudo sabe, e um tom de voz tanto ríspido
quanto assertivo, que faça com que quem ouve fique imediatamente com a certeza
de que somos a única pessoa que trabalha, já trabalhou e alguma vez trabalhará
neste país. Eu ajudo a perceber com exemplos.
- Ah, levei um tiro, chamem uma
ambulância, levem-me ao hospital...
- Tiro? Hospital? Quer fazer o estado
gastar dinheiro consigo, seu bandalho? ISSO VAI LÁ É COM TRABALHO!
- ... pois, o meio campo sem o Witsel...
- O problema do Benfica a meio campo VAI
LÁ É COM TRABALHO!
- Vou à segurança social que estou
desempregado...
- Desemprego? Falta de trabalho? Isso RESOLVE-SE É COM TRABALHO!
- Vou
fazer uma grevezinha porque os meus chefes aumentaram-me 1% e aumentaram-se 30%
- Greve?
SEU FILHA DA PU(PIP)! GREVE??!! ISSO VAI LÁ É COM MAIS TRABALHO!
(nota:
neste último exemplo, confirmava-se a veracidade e legitimidade do brocado. Se
mais trabalho houvesse os administradores da Galp podiam ter aumentado o seu
próprio salário em 40%, mas os mandriões dos trabalhadores, que não pertencem ao
conselho de administração, não deixaram. Fazer o quê? Vivemos num país de
calões e invejosos).
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